Ouça primeiro!
Cícero
Lins, 25 anos, foi guitarrista e vocalista da Alice, uma das muitas
bandas surgidas durante o pseudo-movimento indie carioca da década
passada e que chegou ao fim deixando dois discos tão interessantes
quanto desconhecidos (“Anteluz”, de 2005, e “Ruído”, de
2007). Três anos depois do fim do grupo (ou qualquer coisa próxima
disso, já que o próprio músico diz não saber exatamente quando a
banda acabou), retoma suas atividades artísticas com seu primeiro
disco solo, o bom “Canções de Apartamento”. Uma pessoa como
outra qualquer. Alguém confrontado como as responsabilidades da vida
adulta, a solidão, o peso do mundo. Alguém que encarou o fim de sua
banda num momento em que retornava de uma temporada de seis meses no
exterior cheio de equipamentos comprados com a ideia de montar um
estúdio. Que terminou os estudos e se viu desempregado e sem
interesse em prosseguir na área que havia escolhido para estudar. Se
comparado a “Ruído” (que, embora citasse no encarte Tom Jobim e
Chico Buarque, podia ainda ser facilmente classificado como um disco
de rock), “Canções de Apartamento” é um disco de MPB. Uma MPB
distinta, por sorte, de tudo o que tem sido feito por “novos
paulistas”, “novos curitibanos” e todos esses rótulos
bairristas que pouco falam sobre alguma coisa. Uma MPB sem pretensões
de reinventar a roda, mas não engessada, que não ignora a
existência de “The Bends” ou “Suburbs”. É como se
pudéssemos imaginar Thom Yorke discutindo Tom Jobim com Marcelo
Camelo, ou Caetano Veloso, ainda jovem, convidando Moska para
assistir um DVD do Arcade Fire, e tudo isso parecesse muito natural.
Climático, o disco é feito para se ouvir com atenção, deixando
ecoar no ouvido e virar docemente a trilha sonora do seu dia. É
brilhante. Uma viagem ao interior de uma mente que parece
expressar-se perfeitamente em letras sentimentais, melodias densas e
vocal tristonho. Por vezes, soa como as cantigas melosas de Milton
Nascimento,
a sensibilidade triste de Rodrigo
Amarante e
até como a pseudo-rockeiragem de Caetano
Veloso.
Ao mesmo tempo, você sente pulsar aquele timbre, passagem ou
composição que a Alice usou
para conquistar fãs até hoje.
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Por Hugo Alexandre